domingo, 8 de outubro de 2023

O medo da morte é o medo do novo

O medo da morte é o medo do novo, do desconhecido, não da morte mesma, pois dela não se sabe nada, a possibilidade de haver dor no processo, por exemplo,  não é ela ainda. Ela é o que absolutamente não se sabe. E é isso que possivelmente traz um temor muito forte. (O amor novo traz medo). Em priscas eras, o novo era basicamente a chegada mortífera do predador, e esse medo primevo pode estar impresso em nós de algum modo. Mas se for assim mesmo, um meio de diminuir essa angústia será fazer coisas novas e alegres, e gostosas, e não doloridas, para ressignificar o novo como algo bom (será que os reacionários, que não aceitam o novo, temem  também a morte?). Então talvez seja por isso  que viajar seja tão bom, que tomar susto de brincadeira cause um estranho alívio. E se tudo isso for verdade, fazer de vez em quando algo bem diferente pode diminuir o medo da morte, por exemplo, ir rastejando da sala para a cozinha, fazer caretas exageradas no espelho, levantar as mãos de repente enquanto andamos na rua (ninguém liga tanto), ouvir música de vanguarda. E assim, quem sabe, esse medo chato diminuirá. O medo do novo.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

O lado "bonitinho" do fascismo.

 Tem uma parte do fascismo que não é notada, nem comentada, e é importante por parecer bonitinha. Em filmes da época do fascismo italiano ela é muito presente. Trata-se de uma convivência muito gostosa e divertida entre pessoas ricas e o povo pobre. Tudo é muito bom, harmonioso e passa uma ideia de que não há nada errado na forte desigualdade. A Sophia Loren fazia muito esse papel de uma pessoa pobre e bela (em filmes de entretenimento), que se relacionava de igual para igual, agradavelmente, com os mais ricos, e vice-versa. Essas imagens são fundamentais para passar a ideia de que a violência se justifica se alguém  atentar contra esse paraíso absoluto formado pela classe alta e a classe baixa irmanadas, felizes e perfeitamente separadas.

Realização, felicidade e alienação

 Eu sempre digo, a realização pessoal pode ser pequena, pequena e justa. E não tem nada a ver com superar os outros. É por isso que há médicos infelizes e operários felizes. A realização pessoal diz respeito a utilizar bastante nossas principais competências no sentido de sermos úteis e benéficos a nós mesmos e à coletividade. E é uma das bases principais da felicidade. Mas ensina-se intensa e constantemente que só nos sentiremos realizados (e felizes) se vencermos muitos outros. Artistas e esportistas são muito importantes, mas a sociedade os usa para difundir que só os que se destacam é que têm valor.

Como interromper essa insanidade?

Ah, faltou falar. Realização até pode acontecer com baixa remuneração.  Felicidade também. Mas é melhor com justiça.