quinta-feira, 10 de novembro de 2011
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Cem poemas bonitos do Brasil
12- Ensinamento
Adélia Prado
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Uai ou why?
Não tenho pesquisas científicas para apoiar essa tese , pelo menos, se elas existem, eu desconheço*, mas tenho uma forte suspeita de que a expressão mineira “uai” deriva da palavra inglesa why. Em primeiro lugar, porque as duas palavras são sonoramente idênticas e, em segundo lugar, porque o uai costuma ser usado no início das frases e quase sempre introduz uma certificação ou explicação para determinado assunto.
Mas como teria surgido essa derivação? Ora, todos nós sabemos muito bem que engenheiros ingleses vieram ao Brasil construir estradas de ferro para escoar a produção de minérios em Minas Gerais, ou administrar empresas de mineração lá. Engenheiros são pessoas cartesianas, que buscam metodicamente explicações para orientar seus passos lógicos no trabalho. Não é difícil que os nossos nativos, vamos chamá-los assim, no afã de imitar aqueles ingleses “superiores”, tenham tido sua atenção voltada para aquela palavrinha que com muita freqüência aparecia no começo das frases desses estrangeiros acostumados a questionar muito: why. Daí para imitar o som desse intróito, como uma maneira de se identificar com aqueles homens importantes, não custou muito. E então surgiu o nosso gostoso “uai”.
Uai é why, uai! Será?
* A bem da verdade, parece que um professor mineiro (não consegui seu nome) forneceu subsídios para essa explicação no V Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, realizado na Universidade Federal de Ouro Preto, em Agosto de 2001.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Cem poemas bonitos do Brasil
11- Casamento
Adélia Prado
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
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