domingo, 30 de dezembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil





28-  Luar do sertão 



                                          Catulo da Paixão Cearense 
                                       
                                                         e   João Pernambuco                    




Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Ó, que saudade
Do luar da minha terra 
Lá na serra branquejando

Folhas secas pelo chão 

Esse luar cá da cidade

Tão escuro 
Não tem aquela saudade 
Do luar lá do sertão 


Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Se a lua nasce 
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata 
Prateando a solidão

E a gente pega
Na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia 
A nos nascer no coração 

Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Coisa mais bela 
Neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste 
No sertão se faz luar

Parece até que alma da lua 
É que descanta 
Escondida na garganta 
Desse galo a soluçar 

Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Ah, quem me dera 
Eu morresse lá na serra 
Abraçado a minha terra 
E dormindo de uma vez

Ser enterrado
Numa grota pequenina 
Onde à tarde a sururina 
Chora a sua viuvez

Não há, ó gente, ó, não
Luar como esse do sertão (2x) 



Cem poemas bonitos do Brasil





27- Tecendo a Manhã

                                                                João Cabral de Melo Neto




Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.



E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
 (a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.