sábado, 21 de julho de 2012

Sobre o atirador de Aurora



Há uns quinze anos, escrevi uma série de textos ("Algumas idéias para um país interessante" - Ed. Baraúna) sobre a forte influência dos filmes de violência explícita nas pessoas mais desequilibradas, mas pouca gente levou essa hipótese a sério.    


19- PROGRAMAÇÃO INVOLUNTÁRIA PARA A VIOLÊNCIA

            Somos escravos do impulso de observar cenas de incêndios, enchentes, outras tragédias, violência entre seres humanos com tiros, facadas, torturas, etc, simplesmente porque o instinto de sobrevivência exige. O objetivo desse mecanismo é: evitar que também sejamos aniquilados pelas situações citadas. Instintivamente olhamos para um acidente grave automobilístico e não conseguimos deixar de olhar, mesmo quando racionalmente sabemos que as vítimas já foram socorridas e outras providências foram tomadas, porque o animal que há em nós, quer se certificar de que não há mais perigo para ele, que a situação já está terminada, ou seja, não pode progredir a ponto de envolver-nos também. O mesmo se aplica para nossa relação com cenas de violência na TV, no cinema e na vida real. Excetuando-se pessoas que conseguem estabelecer uma mediação racional bastante forte entre seus impulsos nesse campo e a concretização dos mesmos, a maioria das pessoas e principalmente aquelas que viveram em meio a muitas sensações de perigo (família desestruturada, ambiente violento, miséria, neurose, etc.), praticamente não conseguem deixar de olhar essas cenas. Trata-se de um fenômeno que chamarei de atenção instintiva.
            Ora, é fácil concluir que se se pretender fazer um filme com relativamente poucos recursos e que dê um bom público, ou com muitos recursos e garantia de bom público, a receita será colocar muitas cenas de violência (ou catástrofes) e violência a mais sangrenta possível e, ainda, de preferência contra ou entre seres humanos e em ambiente realista. A atenção instintiva assim gerada aumentará em muito a garantia de um bom público.
            É sabido que nossa mente pode ser programada, em muitos aspectos, como se fosse um computador. No caso do cérebro, para que ele aceite uma programação, é preciso: 1- que a pessoa a queira, 2- que a programação ocorra com base em exposição prolongada com muita repetição ou com exposição especial, envolvendo estados alterados de consciência.
            Pensemos na violência presente na TV e no cinema. Milhares de tiros, facadas e torturas várias numa freqüência crescente, são assistidos todos os dias pelos espectadores. Passados uns dez anos de exposição, e se pensarmos em crianças e adolescentes em fase de definição de personalidade, é muito possível que tenha ocorrido uma programação, embora informal, para a violência sangrenta, para a violência de aniquilação do outro. Porque as cenas de violência com tiros, facadas e torturas, quebras de pescoço, etc., ao serem absorvidas pelas pessoas nessa quantidade e freqüência, dia após dia, ficam gravadas profundamente, além disso, levam a uma habituação a esses atos, que deixam de ser raros em nossa consciência, surpreendentes, apavorantes, e enfim, passam a estar na ordem do dia. Aqui vai uma afirmação muito ousada pois ainda não totalmente demonstrada em laboratórios de Psicologia: a de que uma pessoa com tamanho repertório audiovisual de violência sangrenta, se for envolvida em uma situação de conflito com outras pessoas, apresenta muito mais probabilidade de, no momento de agir, substituir o impulso de socar pelo de atirar, substituir a idéia de chamar uma autoridade policial pela idéia de matar seu inimigo, trocar um empurrão do tipo “deixe-me em paz”, por pegar a cabeça do oponente e golpeá-la na quina de uma mesa. E se estiver dando uma “gravata” no oponente, por que não completar com aquela torção tão elegante que com freqüência é mostrada nos filmes, a qual vem sempre acompanhada de um “clic” de pescoço quebrado?
            Acredito que essa possibilidade aumenta muito mesmo e, se isso for verdade, é possível que os crimes sangrentos estejam ocorrendo em nossa sociedade numa quantidade muitíssimo maior do que ocorreriam caso nossa cultura não efetuasse a programação para a violência já descrita.
            Mas uma programação desse tipo só pode ocorrer se as pessoas participarem intensamente do processo, em suma, se elas quiserem. Isso quer dizer então que elas querem a violência sangrenta, uma vez que os filmes de violência dão boas audiências de TV e boas bilheterias de cinema?
            Como vimos no início, as pessoas não exatamente querem assistir mas são quase que obrigadas a isso por força dos instintos de sobrevivência e segurança (o fenômeno da atenção instintiva). Então essas cenas são muito atraentes, então essas cenas dão lucro, então elas ocorrem com freqüência cada vez maior nas telas, então nossas mentes ficam cada vez mais impregnadas de alta violência, então ocorre a programação para a violência, então um número aumentado de pessoas comete atos graves de violência física. Assim, fecha-se perfeitamente o esquema de programação neurolingüística involuntária para a alta violência.
            Acreditem, foi sem querer.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Frases minhas do Face -1






*  Não acredito em terrorismo do bem, a serviço de uma causa humanista. Quem planeja a morte de seres humanos, gosta de matar seres humanos.

 

*  A revolução brasileira será colocar a escola de pé, luxuosamente de pé. 



*  Acho que a gente começa a ficar bem na vida quando sente uma gostosura danada só de levar a gente mesma para tomar um lanche... 



*  Quando o brasileiro tomar o Brasil para si, teremos por aqui muitas coisas legais como, por exemplo, linhas de trens que passarão por todas as regiões e belezas do país, com vagões para refeitórios, amplos dormitórios, áreas de convivência... ; tudo muito confortável e acessível a todos, para que, pelo menos uma vez na vida, qualquer um de nós possa conhecer inteiramente o seu próprio país.    Mas para isso, brasileiro, você precisa tomar o Brasil para si. 



*  A vida é esta.



terça-feira, 10 de julho de 2012

Amor público



                                                                       

Para termos um mundo verdadeiramente humano, precisamos desenvolver o que chamo de amor público.No dia em que nós pegarmos um regadorzinho e formos até a praça pública mais próxima a fim de nutrir carinhosamente uma flor ressequida, com o mesmo ou quase o mesmo amor que colocamos no ato de pegar o nosso bebê e o levarmos para a mãe amamentar, o mundo terá encontrado o seu caminho verdadeiro.

No dia em que prepararmos um prato de comida bem caprichado e o levarmos até o mendigo largado na calçada, dizendo a ele: “Olha, eu sei que nossa comida não vai resolver o seu problema, mas gostaria muito que você a aceitasse, porque ela está gostosa demais e foi feita com muito carinho. Experimenta!” E se, enquanto ele comer, ficarmos ali, conversando tranquilamente, fazendo desse momento algo especial, humano, inesquecível para ele (e para nós), então o mundo terá começado o seu caminho verdadeiramente humano, que inclui o amor público.


Mas, fala sério, a gente não aguenta nem reunião de condomínio!