sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Frases minhas do Face - 3





*Se a alimentação vegetariana acalma, por que não alimentar nossos presidiários exclusivamente com ela?  



*Proponho um sistema que proteja as crianças das loucuras dos adultos. Nos EUA e orientais, é o sucesso a qualquer custo; em países governados pela religião, há a imposição fanática que sempre acaba em guerra ou em comportamentos excruciantes; quanto a países de corruptos como o nosso, as crianças são simplesmente abandonadas. E há muitas outras loucuras adultas sendo impostas às crianças pelo mundo afora.Como as crianças dependem dos adultos mais próximos, torna-se necessário um sistema poderoso que possa impedir ou minimizar tudo isso.



*EUA, pare de querer dominar os outros. Nós gostamos tanto das suas melhores coisas. Aprenda também a gostar das melhores coisas dos outros, em vez de apenas dominar, dominar, dominar. 



*Parabéns a todas as mulheres e obrigado por deixarem para nós a única tarefa que, ainda, só nós podemos fazer: desrosquear tampas. 



*O Brasil é mesmo um caso sério. Conseguiu ficar rico, mas, em vez de aproveitar a nova e inédita situação para cuidar melhor dos brasileirinhos, desvalorizou aqueles que seriam o motor principal desse melhor cuidado, os professores. Vai entender! 




*Os partidos que atualmente existem podem não representar o seu pensamento político, mas representam o pensamento de milhões de outros brasileiros, por isso, é imprescindível que você os respeite. A democracia é desagradável justamente porque tem como base a convivência com os outros pensamentos. Mas ela é o melhor sistema que já tivemos para favorecer o nosso progresso social. Não vamos admitir nenhuma tentativa de destruí-la. Respeite portanto a existência dos partidos com os quais você não se alinha. O inferno não é o outro, o inferno é a negação do outro.




*Além de postos policiais em cada quarteirão, poderíamos ter espaços para música ao vivo igualmente espalhados pela cidade. A música boa também pode salvar o mundo.




*É triste ver o acordar cívico de milhões de pessoas ser usado por pessoas que só pensam em derrubar este ou aquele político. Chega dessa criancice latino-americana. Vamos pensar a vida juntos!




*Em uma sociedade com limites claros e justos, até o louco fica menos louco.




*Paciência democrática para conversar. E não precisamos acabar com esses eventos legais que estão vindo para o Brasil. Se gastaram muito dinheiro nisso, uma proposta bacana é exigir que a mesma quantidade de recursos seja utilizada de imediato em educação ou saúde. Quanto aos eventos, esporte é melhor que guerra, alem do mais, a maneira linda que temos de jogar futebol faz parte da nossa cultura e influencia positivamente o mundo com sua beleza. A luta não é só por matéria, é por alma também.



*Felicidade é viver coisas boas sem comparar com coisas melhores.





sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil




39  I-Juca-Pirama
                                  Gonçalves Dias

 
I

No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.


São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!


As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.


No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.


Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: — de um povo remoto
Descende por certo — dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.


Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro
Assola-se o teto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.


Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda de embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Entanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.



II

Em fundos vasos d'alvacenta argila
ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
jamais verá!


A dura corda, que lhe enlaça o colo,
mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
do que o festim!


Contudo os olhos d'ignóbil pranto
secos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas
do coração.
Mas um martírio, que encobrir não pode,
em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
na fronte audaz!


Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
no passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
folga morrendo.


Folga morrendo; porque além dos Andes
revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
da fria morte.


Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,
lá murcha e pende:
Somente ao tronco, que devassa os ares,
o raio ofende!


Que foi? Tupã mandou que ele caísse,
como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
esmoreceu!


Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
da fria morte.



III

Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a ivirapeme,
Orgulhoso e pujante. — Ao menor passo


Colar d'alvo marfim, insígnia d'honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d'imigos feros.


“Eis-me aqui, diz ao índio prisioneiro;
“Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
“As nossas matas devassaste ousado,
“Morrerás morte vil da mão de um forte.”


Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
“Dize-nos quem és, teus feitos canta,
“Ou se mais te apraz, defende-te.” Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.



IV

Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.


Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.


Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.


Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.


E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz


Aos golpes do imigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.


Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!


O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.


Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja — dizei!


Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.


Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixa-me viver!


Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer.



V

Soltai-o! — diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo,
— Timbira, diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que somente por seu na voz conhece.
— És livre; parte.
— E voltarei.
— Debalde.


— Sim, voltarei, morto meu pai.


— Não voltes!


É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
— Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!
— És livre; parte!


— Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.


— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas
O rebater do coração se ouvia
Precipite. - Do rosto afogueado
Gélidas bagas de suor corriam:
Talvez que o assaltava um pensamento...
Já não... que na enlutada fantasia,
Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
Do velho pai a moribunda imagem
Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! ingrato!
Curvado o colo, taciturno e frio,
Espectro d'homem, penetrou no bosque!



VI

— Filho meu, onde estás?


— Ao vosso lado;
Aqui vos trago provisões: tomai-as,
As vossas forças restaurar perdidas,
E a caminho, e já!


— Tardaste muito!


Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!


— Sim, demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já!


— Que novos males


Nos resta de sofrer? — que novas dores,
No outro fado pior Tupã nos guarda?
— As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para novo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta.


— Mas tu tremes


— Talvez do afã da caça...


— Oh filho caro


Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... — E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tateando as trevas
Da sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal correu-lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: — foge, volta,
encontra sob as mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato!...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar correra o filho,
Ele o via; ele o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!


— Tu prisioneiro, tu?


— Vós o dissesses.


— Dos índios?


— Sim.


— De que nação?


— Timbiras


— E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
— Nada fiz... aqui estou.


— Nada! —


Emudecem;


Curto instante depois prossegue o velho:
— Tu és valente, bem o sei; confesso,
Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!
— Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia...
— E depois?...


—Eis-me aqui.


—Fica essa taba?


— Na direção do sol, quando transmonta.


— Longe?


— Não muito.


— Tens razão: partamos.


— E quereis ir?...


— Na direção do ocaso.



VII

“Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedesses
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis — e mas foram
Senhores em gentileza.


“Eu porém nunca vencido,
Nem os combates por armas
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Manda! vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por pai se ufane!”


Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com torvo acento:
— Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. —
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!



VIII

“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.


“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!


“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.


“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde festas como asco e terror!


“Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E o oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.


“Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sé maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."



IX

Isto dizendo, o meserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho para.
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
— Esse momento só vale apagar-lhe
Os tão compridos transes, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.


A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.


Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.


— Basta! clama o chefe dos Timbiras,
— Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. -
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
“Este, sim, que é meu filho muito amado!


“E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
“Corram livres as lágrimas que choro,
“Estas lágrimas, sim, que não desonram.”



X

Um velho Timbira, coberto de glória,
guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!


E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Dizia prudente: - “Meninos, eu vi!
“Eu vi o brioso no largo terreiro
cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mim.


“Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"


Assim o Timbira, coberto de glória,
guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Tomava prudente: "Meninos, eu vi!”


 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



38 - Seio de virgem
                     Álvares de Azevedo

                                                                                                                              Quand on te voit, il vient à maints
                                                                                                                              Une envie dedans tes mains
                                                                                                                              De te tâter, de te tenir...
                                                                                                                                                             CLÉMENT MAROT

O que sonho noite e dia,
E à alma traz-me poesia
E me torna a vida bela...
O que num brando roçar
Faz meu peito se agitar,
É o teu seio, donzela!

Oh! quem pintara o cetim
Desses limões de marfim,
Os leves cerúleos veios
Na brancura deslumbrante
E o tremido de teus seios?

Quando os vejo... de paixão
Sinto pruridos na mão
De os apalpar e conter...
Sorriste do meu desejo?
Loucura! bastava um beijo
Para neles se morrer!

Minhas ternuras, donzela,
Voltei-as à forma bela
Daqueles frutos de neve...
Ai!... duas cândidas flores
Que o pressentir dos amores
Faz palpitarem de leve.

Mimosos seios, mimosos,
Que dizem voluptuosos:
"Amai, poetas, amai!
Que misteriosas venturas
Dormem nessas rosas puras
E se acordarão num ai!"

Que lírio, que nívea rosa,
Ou camélia cetinosa
Tem uma brancura assim?
Que flor da terra ou do céu,
Que valha do seio teu
Esse morango ou rubim?

Quantos encantos sonhados
Sinto estremecer velados
Por teu cândido vestido!
Sem ver teu seio, donzela,
Suas delícias revela
O poeta embevecido!

Donzela, feliz do amante
que teu seio palpitante
Seio d'esposa fizer!
Que dessa forma tão pura
Fizer com mais formosura
Seio de bela mulher!

Feliz de mim... porém não!...
Repouse teu coração
Da pureza no rosal!
Tenho no peito um aroma
Que valha a rosa que assoma
No teu seio virginal?...


sábado, 12 de outubro de 2013

Socorro! Quero tempo livre para criar!





Toda a evolução tecnológica humana dependeu de se permitir tempo livre para o trabalho de alguns inteligentes. 

Infelizmente, para isso foi preciso sobrecarregar maiorias com trabalho sufocante (escravos, servos, operários). Porém, como o trabalho intensivo de muitos é mais visível do que o tempo livre de poucos, tendemos a associar o progresso muito mais a trabalho exaustivo do que a tempo livre para criar, e este erro é a barreira principal que impede a nossa entrada a uma nova etapa da humanidade em que todos trabalharão menos e terão tempo livre para criar. Por causa dessa inversão, seguimos mantendo sobrecarregados os que estão trabalhando, enquanto muitos permanecem ansiosamente desempregados. Enfim, todos, de um modo ou de outro, sem tempo confortável para criar. Trata-se de um bloqueio intelectual. 

E a escola faz o quê?  Segue nessa linha, manifestando verdadeiro pavor do tempo livre e impondo rotina trabalhosa, rotineira e entediante. Pena.



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Escola também é cultura





Existe cultura sem escola, mas existe escola sem cultura?

Muitas vezes é essa a impressão que a escola passa.  Parece querer se independer da cultura.  Conhecimentos escolares/acadêmicos seriam uma categoria estanque separada do saber cotidiano, dos valores, das regionalidades, da arte em geral, do bom senso, do “jeito” de viver, da maneira de lidar com as tecnologias , enfim, de tudo que reconhecemos como sendo a cultura humana de uma dada comunidade.

Eu diria que quanto mais a escola tenta essa aventura vazia, a de se independer da cultura, mais se mostra insuficiente, alienante e improdutiva.

1. Pesquisar/estudar a bibliografia a respeito dessa interação e da resistência a essa interação, conhecer o pensamento sobre isso dos atores envolvidos diretamente com a escola é um caminho que gostaria de trilhar.

2. Em seguida, haveria que se verificar a validade da inclusão na escola de atividades culturais que não fossem “reféns” das atividades escolares, ou seja, que não fossem meras matérias-primas para as atividades escolares típicas, e sim que tivessem seu valor em si reconhecidas dentro da escola, como parte fundamental da formação do educando.

3. Outras linhas que se seguiriam a essas: conhecer profundamente um sistema educacional que valorize a vivência cultural dentro do processo escolar (parece que é o caso da Finlândia), e conhecer outro que não o faz (parece que é o caso do Brasil – nossas escolas podem ter fanfarras, mas não podem ter escolas de samba), pois assim teríamos dados da realidade e elementos concernentes da literatura científica que poderiam ser inter-relacionados para um resultado final consistente e, possivelmente, revelador de um vetor para a criação de uma escola integrada culturalmente e compatível com os novos tempos, os quais surgem e urgem.

4. Pesquisar a implicação da descoberta das várias inteligências humanas no desmonte da escola que conhecemos, isolada da cultura – causa possível: consideração quase exclusiva das inteligências lógico-linguística e lógico-matemática – e, por conseguinte, implicação dessa descoberta na criação da nova escola, que, ao reconhecer a diversidade intelectual e emocional humanas, aceitará sua plena imersão na cultura – produto óbvio de todos, vale dizer, de todas as inteligências humanas. 

5. A respeito da literatura sobre cultura, talvez seja um bom ponto de partida as elaborações teóricas propositoras de que a cultura faz-se muito mais na recepção do que na emissão.  Pois que os conhecimentos típicos produzidos na escola têm características universais (equação de 3º grau é equação de 3º grau no mundo inteiro), mas a forma como esses conhecimentos são percebidos, ou trabalhados, ou aprendidos, sofrem uma influência da cultura presente em cada ser humano envolvido no processo.  Daí a importância de se pesquisar a relação recepção-cultura. Talvez por isso, os grandes centros de pesquisa do mundo inteiro valorizam a multietnia na formação das equipes de pesquisadores.  Múltiplas e sutis diferenças produzindo enriquecimento do processo. 

6. No que tange à abordagem da arte no contato proposto escola-cultura, talvez fosse interessante estudar os teóricos que afirmam a capacidade da arte de ser produtora e expressão de conhecimentos, pensando-se aqui no conhecimento mais facilmente reconhecido como conhecimento escolar/acadêmico.  

7. Quanto à escola, talvez caiba detectar a presença da cultura ou a falta dela em todas as propostas para o trabalho com projetos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, mas também pesquisar os autores que consideram os conhecimentos tipicamente escolares como produtos culturais.

8. Uma outra possibilidade talvez bastante original para essa pesquisa seria o levantamento de, p. ex., como os Prêmios Nobel de um país, ou pesquisas marcantes feitas por seus pesquisadores têm elos de identificação com traços de sua cultura.  Apenas a título de tentativa de encontrar evidências, poder-se-ia citar a “improvisação” de Cesar Lattes nas emulsões das chapas fotográficas que detectaram a sub-partícula méson-pi (o Nobel foi para o chefe de sua equipe, mas foi ele, Lattes, o responsável pela descoberta).  O que teria de brasileiro nisso?  Ora, o nosso desprendimento em relação aos trâmites mais tradicionais, nossa habilidade (para o bem e para o mal) para a improvisação, o “jeitinho brasileiro”, enfim, essa coisa meio iconoclasta. Quanto às teorias que relativizam o tempo e o espaço, qual país, visto pelos seus traços culturais mais característicos, melhor do que a Alemanha – geralmente associada a aprofundamento filosófico - para fazer essas descobertas.

Vale explicar que estou citando esse prêmio por ser muito conhecido e fácil de ser pesquisado, mas há outros indicadores, claro. E que estou trabalhando com ele por representar bem o conhecimento escolar ou acadêmico. 

Provavelmente, Prêmios Nobel ganhos por um mesmo país estejam relacionados com um traço cultural forte seu. É possível que as descobertas japonesas se caracterizem por serem muito minuciosas e precisas, que as argentinas sejam mais relacionadas à emoção e à impulsividade (Ivan Isquierdo?), etc.  Cabe pesquisar, seria uma evidência forte do quanto os conhecimentos escolares/acadêmicos, embora com marcas de universalidade, não são independentes de cada cultura humana.

Enfim, itinerários de uma pesquisa que tenha a força de desmistificar a tendência que sentimos nos ambientes escolares de abordar os conhecimentos como se eles fossem isolados, autônomos, ou esterilizados em relação à cultura imediata.




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil





37- Ou isto ou aquilo

                                      Cecília Meireles      




Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
 

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
 

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
 

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
 

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
 

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
 

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


 



domingo, 25 de agosto de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil




36 - Ismália 

                                                                                       

                                                             Alphonsus de Guimaraens



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...





domingo, 28 de julho de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



35 - Ao Luar

                                                                                    Augusto dos Anjos


Quando, à noite, o Infinito se levanta
A luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!
Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!
Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado…
Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



34 - Sentimento do mundo


                                      Carlos Drummond de Andrade

                                       

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.



terça-feira, 11 de junho de 2013

Porque, por que, por quê e o porquê.



(1) Por que tantos?  (2) Por quê?  (3) Bem, é possível sim entender por que há todas essas formas.  (4) Isso acontece porque nossa língua portuguesa tem apreço por marcar diferenças sutis.  (5) Esse é de fato o porquê de tamanha variedade.

Se você prestou bem atenção no parágrafo acima, percebeu que para introduzir a questão, foi usado o por que separado tanto em (1) como em (3), ou seja, não é preciso haver o ponto de interrogação para usar essa forma. Já para introduzir a questão com o por que separado no final, usou-se o acento circunflexo  no quê em (2).  Porém, para introduzir a resposta à questão, foi utilizado o porque junto em (4).  Por fim, como sinônimo de resposta, ou explicação, ou razão para a questão, usou-se a expressão "o porquê", com artigo o, porquê junto e  acento circunflexo no ê (5).

Ficou claro, pessoal?



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



33- Ame
         
                          Paulinho da Viola 


Ame
Seja como for
Sem medo de sofrer
Pintou desilusão
Não tenha medo não
O tempo poderá lhe dizer
Que tudo
Traz alguma dor
E o bem de revelar
Que tal felicidade
Sempre tão fugaz
A gente tem que conquistar

Por que se negar?
Com tanto querer?
Por que não se dar
Por quê?
Por que recusar
A luz em você
Deixar pra depois
Chorar... pra quê?




segunda-feira, 3 de junho de 2013

E se acabássemos também com as vogais mudas?




Nenhuma língua terá algum dia uma escrita totalmente fonética ou organizada logicamente, mas como penso que nós brasileiros temos um problema sério com  o uso de nossa língua materna, e isso vale tanto para os que não sabem tanto, quanto para os que sabem bastante  -  basta ver como em reuniões a tarefa de escrever a ata passa de mão em mão como uma batata quente, ou melhor, fervente - creio que dois esforços precisam ser levados a efeito para melhorar essa paúra nacional:  1- Flexibilizar a norma culta para acolher os modos brasileiros de expressão, e 2- Avançar no sentido de simplificar e/ou tornar mais lógica a escrita do português.  

Vou me ater aqui ao segundo esforço.  O acordo ortográfico vai nesse sentido.  Uma mesma escrita para todos os falantes do Português  no mundo inteiro é uma boa pedida.  "Fato" continua significando "terno" lá em Portugal, mas a maneira de se grafar qualquer palavra tenderá a ser uniforme em todo  o mundo lusofônico.

 E uma das boas medidas desse acordo foi acabar (ou quase) com as consoantes mudas (existiam sem serem pronunciadas).  

Mas terminaram com o trema e muita gente não gostou disso.  Eu quero propor aqui uma solução radical para a falta do trema:  a eliminação das vogais mudas.   Isso mesmo.  Se as consoantes mudas caíram, por que não fazer o mesmo com as suas congêneres vogais?

Assim teríamos uma solução boa para a falta do trema.  "Linguiça teria a pronúncia do u". Já  "quero" seria substituído por "qero".  Ou seja, se a vogal aparece na palavra, ela tem que ser pronunciada.

O único ajuste adicional (mas que será percebido certamente como um pouco estranho) será reservar para a letra j o som "jjjjjjjj", e para a letra g  o som "gue".  Assim, "guerra" passará a ser grafada como "gerra" (o som jjjjj será exclusivo da letra j, lembram-se?); e "gente" será grafada como "jente".  

Qe tal? 







terça-feira, 21 de maio de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



32- Apagar-me      

                                     

                                             Paulo leminski

                                                                                                                        
Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.




domingo, 5 de maio de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil





31- Disparada

                                                     de Geraldo Vandré e Theo de Barros


I

Prepare o seu coração
Prás coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar…

II

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte, o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar…

III

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu…

IV

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei…

V

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei…

VI

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente…

VII

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

VIII

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer mais longe que eu

IX

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei





quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil





 30 a lua no cinema

                                      Paulo Leminski
  


      A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
      a história de uma estrela
que não tinha namorado.


      Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
      dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!


      Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
      e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.


      A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
      que até hoje a lua insiste:
 - Amanheça, por favor!




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



29 - Bem no fundo 

                         
                                  Paulo Leminski



No fundo, no fundo, 
bem lá no fundo, 
a gente gostaria 
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 

a partir desta data, 
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula 
e sobre ela — silêncio perpétuo 

extinto por lei todo o remorso, 
maldito seja que olhas pra trás, 
lá pra trás não há nada, 
e nada mais 

mas problemas não se resolvem, 
problemas têm família grande, 
e aos domingos 
saem todos a passear 
o problema, sua senhora 
e outros pequenos probleminhas.




quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Frases minhas do Face - 2





* Quando estiver vivendo um bom momento, não pense que ele vai acabar, pense que ele está existindo.




* Proponho um sistema que proteja as crianças das loucuras dos adultos. Nos EUA e orientais, é o sucesso a qualquer custo; em países governados pela religião, há a imposição fanática que sempre acaba em guerra ou em comportamentos excruciantes; quanto a países de corruptos como o nosso, as crianças são simplesmente abandonadas. E há muitas outras loucuras adultas sendo impostas às crianças pelo mundo afora.  Como as crianças dependem dos adultos mais próximos, torna-se necessário um sistema poderoso que possa impedir ou minimizar tudo isso.



* Até hoje, todas revoluções foram absorvidas pelo sistema. Que a próxima revolução absorva o sistema!

 


* O socialismo será implementado quando der lucro.

 

* E se a gente fosse para uma rua, em grande grupo, e a limpasse completamente, com todo o cuidado que reservamos aos espaços internos de nossas casas? Não seria um ato político bacana?




domingo, 6 de janeiro de 2013

Escola

                                                                                                    
Esse assunto me fascina, mas também entristece porque é muito difícil de resolver.  No intuito de produzir algum esclarecimento útil, vou tentar abordá-lo por um ângulo mais especificamente educacional, e não pelo ângulo costumeiro que localiza sua crise como um interesse político reacionário (desejo de manter as pessoas na ignorância para melhor controlá-las).
Há mais ou menos quarenta anos, a escola (ótima para os oito alunos de cada classe que conseguiam se formar no ginásio), na tentativa de ser menos repressora e excludente, procurou criar técnicas que ensinassem mais a quem aprendia pouco, ou, o que é quase a mesma coisa, que ensinassem a quem não queria aprender.  Passado esse tempo, o saldo é o pior possível, pois quem não quer aprender continua igual; e quem quer, sente-se como que relegado a um injusto segundo plano.  Com isso, até mesmo esses últimos (com raríssimas exceções) ficam muito despreparados, abaixo de seus respectivos potenciais.

Nesse ínterim e nesse sentido, foram desenvolvidos e aplicados monstrengos teóricos como o “construtivismo”, que basicamente coloca uma ênfase absurda na construção do conceito por parte do aprendiz – aquele processo de aulas divertidas que termina com o aluno dizendo “Entendi!” –   mas que despreza completamente outras etapas fundamentais, as quais envolvem treinamento, como a de ensinar o aluno a aplicar esses conceitos e, a mais importante, de ensiná-lo a aplicá-los bem e em um tempo socialmente hábil  (não adianta o médico saber como é a operação, ou precisar de 30 dias para fazê-la com qualidade,  é necessário que a faça bem e em tempo aceitável).  

Enfim, estacionando os alunos na fase do “Entendi!”,  não permitimos que sua ação fosse enriquecida pelo “conhecimento” adquirido.

A solução: para ensinar os que não querem aprender, ou que aprendem pouco, o caminho é levar em conta o que já se sabe sobre as várias inteligências humanas, para assim procurar e ensinar mais o que cada um quer mais aprender.  E ensinar completamente, vale dizer, passando por todas as etapas referidas aqui.

O ser humano é diverso, plural e precisa de treinamento para integrar o conhecimento à sua realidade; portanto, que as escolas sejam assim também.  Escolas multifacetadas e treinadoras.
                                                                                                         Humberto Cosentine