quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Nós e vocês

                                                                       Humberto Cosentine


Nós temos a música,
vocês têm a guerra,

Quando nos reunimos com nossos amigos argentinos,
cantamos juntos canções das duas culturas e ficamos felizes.
Por que então desejamos a morte deles,
ao jogarmos futebol com eles?

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Odiamos os norte-americanos
pela submissão que impõem a muitos povos,
mas amamos profundamente
Elvis, Bob Dylan, Michel Jackson e tantos novos.

Nós temos a música,
vocês têm a guerra.

Nos entusiasmamos com a beleza alegre e vital
das músicas fortemente percussivas dos africanos,
no entanto, a todo instante, no mundo inteiro, eles são relegados a um plano inferior,
somente pela cor de sua pele.

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Ninguém gosta da arrogância dos europeus,
e de como colonizaram o mundo inteiro,
isso sem falar das suas recentes tentativas de destruir o gênero humano.
Todavia, como nos beneficiamos da beleza infindável e profunda da música clássica!

Nós temos a música,
vocês têm a guerra.

Precisamos muito de todas as vertentes da música dos povos orientais
para desenvolvermos meditação, harmonia, serenidade e até iluminação.
Por outro lado, assusta ver como eles parecem ser capazes de sugar friamente,
até a exaustão,
todos os recursos do resto do Planeta, para garantirem sua própria sobrevivência.

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Vemos os povos primitivos de qualquer parte como um peso para a humanidade
e agimos no sentido de simplesmente eliminá-los,
porém, seus cantos sutis e hipnotizantes,
sempre acompanhados de movimentos sincrônicos que valorizam o coletivo
e a natureza,
auxiliam- nos a aceitar nossa condição de seres sociais e nossa ligação íntima
com a Terra.

Nós temos a música.
Mas quem são vocês?