quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil





 30 a lua no cinema

                                      Paulo Leminski
  


      A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
      a história de uma estrela
que não tinha namorado.


      Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
      dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!


      Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
      e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.


      A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
      que até hoje a lua insiste:
 - Amanheça, por favor!




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Cem poemas bonitos do Brasil



29 - Bem no fundo 

                         
                                  Paulo Leminski



No fundo, no fundo, 
bem lá no fundo, 
a gente gostaria 
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 

a partir desta data, 
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula 
e sobre ela — silêncio perpétuo 

extinto por lei todo o remorso, 
maldito seja que olhas pra trás, 
lá pra trás não há nada, 
e nada mais 

mas problemas não se resolvem, 
problemas têm família grande, 
e aos domingos 
saem todos a passear 
o problema, sua senhora 
e outros pequenos probleminhas.