quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Dicas para redação de vestibular



Dicas para a redação de vestibular, pensadas a partir dos erros e das dificuldades que mais aparecem no plantão do Anglo e na correção das redações. Acho que pode ser útil:

1. Leia bem a proposta. Ela é uma instrução.  Perceba detalhes.  Siga-a respeitosamente. Leve em conta as palavras-chaves do tema.

2. Leia bem a coletânea.  Mergulhe em seus textos em busca de repertório que o auxilie a argumentar em favor de sua tese/opinião. Marque tudo que for interessante. Anote.  "Texto lido é texto riscado" (Lucy).

3. Defina sua tese.  Ela funciona como uma espinha dorsal orientadora dos seus argumentos.  Se não há tese, os argumentos defenderão o quê?

4. Tendo a tese e os argumentos, pronto!  Você tem o projeto de texto.

5. Introdução: apresenta e envolve.    Intro (dentro) + dução (conduzir) =  levar (o leitor) para dentro. Inclui uma contextualização/problematização e uma indicação de tese (ou a tese).  Obs.: há outros modelos, mas esse é mais fácil.
Ah! Precisa ser bem clara para atrair o leitor.

6. Desenvolvimento:  é a argumentação, a defesa da tese/opinião.  Se bem que todas as partes do texto são argumentativas, todas visam convencer o leitor da validade da tese.

7. Conclusão:  faça referência aos pontos principais da argumentação e, a partir disso, realize uma espécie de reflexão, muito atrelada aos argumentos (não é para sair voando) e relacionada à tese.

8. Conclusão para o Enem:  provavelmente conterá intervenções.  Escolha dois ou três (melhor) agentes sociais, estruture suas ações, concretize-as, detalhe-as. Não seja vago ou genérico.  Além disso relacione-as aos problemas colocados nos argumentos. Esse casamento é muito importante. Atenção, intervenções não são exclusividade do Enem, você pode incluí-las em redações de qualquer vestibular.

9. Para construir o texto, você precisa ter dentro de si um pedreiro, um engenheiro, um arquiteto e um supervisor.

O arquiteto faz o projeto de texto. O engenheiro decide qual repertório (da coletânea e próprio) utilizar em cada parágrafo. E o pedreiro transforma o repertório escolhido em argumentos, com a escolha de palavras (tijolos) e conexões/pontuação (cimento).  O supervisor fica o tempo todo verificando se há falhas no trabalho dos três.

10. Evite dialogar com o leitor (você ...), usar a primeira pessoa do singular (eu), frases muito longas, parágrafos com apenas uma frase, argumentar ou incluir novas informações na conclusão, repetir a mesma palavra muitas vezes, pôr vírgula entre sujeito e predicado, usar "onde" para se referir a algo que não seja lugar, gastar muito mais do que uma hora para a redação, quebrar paralelismo sintático (pesquise), usar conectivos errados.

11. Perguntas (do supervisor) que você deverá ficar fazendo a você mesmo durante toda a feitura da redação:

1- Essa palavra é adequada ao que quero expressar?
2- As frases estão completas?
3- Os parágrafos têm foco? Estão apoiando a tese? Estão interligados, como um passo levando ao outro?
4- Estou controlando bem o tempo?
5- A tese está clara?
6- Estou respeitando mesmo a proposta?
7- Estou nervoso demais? (Se sim, vá ao banheiro e faça algumas caretas para o espelho).
8- Usei a coletânea pelo menos um pouco, ou como pede a proposta?
9- É vírgula ou ponto entre as orações?  Vírgula indica complementação lógica.  Ponto indica retomada do assunto imediato.
10- A conclusão passa a ideia de fecho/fim?
11- Estou deixando bom espaço para a intervenção? (+/- 9 linhas) (Enem)

Boa redação!

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Revolução e economia de mercado



A cirurgia de transplante do coração foi desenvolvida na vigência do capitalismo e é fruto do desenvolvimento contínuo do conhecimento humano desde os primeiros tempos.

A economia de mercado também é algo que vem se desenvolvendo desde o início da humanidade, embora caracterize muito o capitalismo. A divisão de alimentos entre os membros do grupo primevo, passando pelo escambo, até chegar no mercado dinâmico atual é a trajetória de um mecanismo que evoluiu a ponto de, com os avanços da computação e da comunicação, realizar a alocação de recursos de forma cada vez mais minuciosa, com capilaridade e precisão.

Ora, se um dia saírmos do capitalismo para um outro modo de produção, deixaremos para trás os frutos do progresso contínuo do conhecimento e do capitalismo?  Deixaremos para trás, por exemplo, o transplante de coração? Claro que não! Mas a economia de mercado também não!

Pois você dirá:  "Só que ela é responsável pelo consumismo, o qual está acabando conosco e com o planeta. Como isso pode ser comparado ao transplante de coração em termos de benignidade?"

A explicação é delicada, mas clara.  Quando se pensa em liberdade de mercado, esquece-se de que sempre existem condições de partida - o lugar onde se vende o produto, o tipo de propaganda, os impostos inclusos nos preços, a quantidade de agrotóxicos, etc.  E essas condições podem ser modificadas, visando o melhor benefício (ou malefícios) para os consumidores.

É como no esporte, em que há também condições de partida, na forma de parâmetros para o livre jogo.  No futebol, por exemplo, há o tamanho e o peso da bola, o tamanho do campo, a grama, o número de jogadores e várias outras regras. Conforme essas condições iniciais, o jogo pode ficar mais veloz, mais violento, mais belo, enfim.

Pois o mesmo pode acontecer com o mercado de cada produto, ou seja, modificando-se as condições iniciais, pode-se alterar o modo como o mercado se dá.  Isso significa que a sociedade pode alterá-lo no sentido do desejo social.  Quando o governo da Califórnia resolve diminuir drasticamente os impostos de automóveis elétricos e estabelecer um percentual do mercado para eles, ele está alterando esse mercado sem engessá-lo, o qual se estabelecerá a partir das condições postas. O caso do cigarro também mostra isso. O que a sociedade deseja em relação a esse produto?  Deseja que seu consumo diminua, se possível, até desaparecer.  Proibir o comércio não resolve, já se sabe. Então, o que foi feito? Proibiu-se a propaganda e exigiu-se a inclusão, nas embalagens, de divulgação contundente dos seus malefícios.  O que falta ainda? Tirá-lo das padarias, deixar que esse comércio seja feito em casas especializadas e discretas.

Bem, isso pode ser feito para cada produto, sempre de acordo com o que a sociedade deseja.  Movimentos nessa direção podem ser verdadeiramente transformadores e produzirem uma sociedade funcional, mais justa, que possibilite até mesmo uma dimensão socialista ou cooperativista. Há espaço aqui para uma política revolucionária.

Por isso afirmo que a economia de mercado não desaparecerá e poderá superar o consumismo em favor dos melhores desígnios humanos.




quinta-feira, 21 de julho de 2016

Como ser um conservador sem se tornar um reacionário




Para tanto, considere quatro afirmações e duas atuações:


1. A sociedade é um ser autônomo. Ela age de forma sistemática e por conta própria. Ela assassina, estupra, aborta, em taxas cientificamente verificáveis.
2. Você tem um pensamento próprio sobre cada ação social problemática, e querer estrangular a sociedade para que aja conforme seu pensamento seria reacionário.
3. A maioria, como um todo, tem um pensamento predominante em relação a cada ação social.4. Políticas públicas são criadas para aproximar a ação social do pensamento da maioria.

Você só pode agir legitimamente - sem se tornar reacionário - de duas maneiras:
a) Influenciar a maioria para que pense como você, desde que essa ação não fira os direitos humanos.
b) Influenciar as políticas públicas para que representem o mais possível o que você pensa.


Agora um exemplo hipotético de aplicação desse tutorial: 

 O aborto.

A sociedade pratica muito o aborto e isso produz grande sofrimento humano. Digamos que você seja totalmente contrário ao aborto, e que a maioria (sempre supondo) seja favorável à legalização até três meses de gestação. A política pública poderia ser legalizar o aborto até um estágio próximo ao que a maioria aceita.

A sua influência legítima poderia levar à diminuição desse tempo legal e à inclusão de um programa educacional sobre sexo seguro, acessível a homens e mulheres, cujo intuito seria o de diminuir a necessidade de abortar.

Pronto! Você atuou aqui como um conservador, mas não como um reacionário. 😉

terça-feira, 21 de junho de 2016

Vida verdadeira


A política que estamos sofrendo nesse exato momento tem como principal objetivo destruir, em cada um de nós, a vontade genuína de ser.  Mas eu sou teimoso. Vou continuar sonhando por toda a minha vida. Insensatamente. Apaixonadamente. E tenho certeza de que, mais à frente, o Brasil será um belo lugar para se estar.

domingo, 31 de janeiro de 2016

O fim da relação senhor-escravo



Vou assustar, de início.

O problema principal  da humanidade é a gigantesca memória afetiva dos benefícios produzidos pela relação senhor-escravo.  Isso mesmo, a civilização que conhecemos precisou desse esquema para chegar até aqui.  Muitas pessoas trabalharam muito e desumanamente para que outros poucos pudessem desenvolver o pensamento e a tecnologia.

Se Aristóteles tivesse que capinar e caçar todos os dias para sobreviver, não teria feito a obra que fez. 

Claro que essa civilização precisa ser criticada e transformada, e que há outros formatos de civilização, por exemplo, dos silvícolas brasileiros, que embora não tenham prevalecido, não foram, felizmente, totalmente extintos, pois serão imprescindíveis para a mudança que virá.

Porém, hoje, mesmo já havendo, por força do desenvolvimento alcançado, a possibilidade de superar a polarização senhor-escravo (escravo, servo, operário – na sequência histórica), não conseguimos ultrapassá-la.  Porque a memória afetiva é mesmo muito presente.  Quando vamos a um restaurante, vamos apenas em busca de comida? Não, vamos em busca também da representação da relação senhor-escravo.  Há escravos para servir, para cozinhar, e nós ficamos ali como senhores (senhores, nobres, patrões – na sequência histórica).  Exigimos qualidade, presteza, cortesia e quase sempre sentimos ali uma surpreendente harmonia.

Por isso, para superar esse dualismo, precisaremos de uma nova política baseada na psicologia, na psicoterapia - que provisoriamente eu chamo de “psicoterapia do lado público do homem” -, capaz de desarmar essa memória afetiva e abrir caminho para uma nova sociedade mais igualitária. Mas essa técnica ainda não existe, precisa ser criada.

É isso. Espero que minha interpretação possa ter transformado o susto inicial em complexa esperança. 




terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Cem poemas bonitos do Brasil





46 - Ternura
                                         Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.