Vou assustar,
de início.
O problema
principal da humanidade é a gigantesca
memória afetiva dos benefícios produzidos pela relação senhor-escravo. Isso mesmo, a civilização que conhecemos
precisou desse esquema para chegar até aqui.
Muitas pessoas trabalharam muito e desumanamente para que outros poucos
pudessem desenvolver o pensamento e a tecnologia.
Se Aristóteles
tivesse que capinar e caçar todos os dias para sobreviver, não teria feito a
obra que fez.
Claro que
essa civilização precisa ser criticada e transformada, e que há outros formatos
de civilização, por exemplo, dos silvícolas brasileiros, que embora não tenham
prevalecido, não foram, felizmente, totalmente extintos, pois serão imprescindíveis
para a mudança que virá.
Porém, hoje,
mesmo já havendo, por força do desenvolvimento alcançado, a possibilidade de superar
a polarização senhor-escravo (escravo, servo, operário – na sequência
histórica), não conseguimos ultrapassá-la.
Porque a memória afetiva é mesmo muito presente. Quando vamos a um restaurante, vamos apenas
em busca de comida? Não, vamos em busca também da representação da relação
senhor-escravo. Há escravos para servir,
para cozinhar, e nós ficamos ali como senhores (senhores, nobres, patrões – na sequência
histórica). Exigimos qualidade, presteza,
cortesia e quase sempre sentimos ali uma surpreendente harmonia.
Por isso,
para superar esse dualismo, precisaremos de uma nova política baseada na
psicologia, na psicoterapia - que provisoriamente eu chamo de “psicoterapia do
lado público do homem” -, capaz de desarmar essa memória afetiva e abrir
caminho para uma nova sociedade mais igualitária. Mas essa técnica ainda não existe, precisa ser criada.
É isso.
Espero que minha interpretação possa ter transformado o susto inicial em
complexa esperança.