domingo, 30 de dezembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil





28-  Luar do sertão 



                                          Catulo da Paixão Cearense 
                                       
                                                         e   João Pernambuco                    




Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Ó, que saudade
Do luar da minha terra 
Lá na serra branquejando

Folhas secas pelo chão 

Esse luar cá da cidade

Tão escuro 
Não tem aquela saudade 
Do luar lá do sertão 


Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Se a lua nasce 
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata 
Prateando a solidão

E a gente pega
Na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia 
A nos nascer no coração 

Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Coisa mais bela 
Neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste 
No sertão se faz luar

Parece até que alma da lua 
É que descanta 
Escondida na garganta 
Desse galo a soluçar 

Não há, ó gente, ó, não 
Luar como esse do sertão

Ah, quem me dera 
Eu morresse lá na serra 
Abraçado a minha terra 
E dormindo de uma vez

Ser enterrado
Numa grota pequenina 
Onde à tarde a sururina 
Chora a sua viuvez

Não há, ó gente, ó, não
Luar como esse do sertão (2x) 



Cem poemas bonitos do Brasil





27- Tecendo a Manhã

                                                                João Cabral de Melo Neto




Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.



E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
 (a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.






quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Nós e vocês

                                                                       Humberto Cosentine


Nós temos a música,
vocês têm a guerra,

Quando nos reunimos com nossos amigos argentinos,
cantamos juntos canções das duas culturas e ficamos felizes.
Por que então desejamos a morte deles,
ao jogarmos futebol com eles?

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Odiamos os norte-americanos
pela submissão que impõem a muitos povos,
mas amamos profundamente
Elvis, Bob Dylan, Michel Jackson e tantos novos.

Nós temos a música,
vocês têm a guerra.

Nos entusiasmamos com a beleza alegre e vital
das músicas fortemente percussivas dos africanos,
no entanto, a todo instante, no mundo inteiro, eles são relegados a um plano inferior,
somente pela cor de sua pele.

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Ninguém gosta da arrogância dos europeus,
e de como colonizaram o mundo inteiro,
isso sem falar das suas recentes tentativas de destruir o gênero humano.
Todavia, como nos beneficiamos da beleza infindável e profunda da música clássica!

Nós temos a música,
vocês têm a guerra.

Precisamos muito de todas as vertentes da música dos povos orientais
para desenvolvermos meditação, harmonia, serenidade e até iluminação.
Por outro lado, assusta ver como eles parecem ser capazes de sugar friamente,
até a exaustão,
todos os recursos do resto do Planeta, para garantirem sua própria sobrevivência.

Vocês têm a guerra,
nós temos a música.

Vemos os povos primitivos de qualquer parte como um peso para a humanidade
e agimos no sentido de simplesmente eliminá-los,
porém, seus cantos sutis e hipnotizantes,
sempre acompanhados de movimentos sincrônicos que valorizam o coletivo
e a natureza,
auxiliam- nos a aceitar nossa condição de seres sociais e nossa ligação íntima
com a Terra.

Nós temos a música.
Mas quem são vocês?






sábado, 1 de dezembro de 2012

Textos bonitos.



1 - Eu me pergunto por que as coisas são como são                                       
                                         
                                                                  Christer Carter Koski


Durante meu primeiro ano no segundo grau, o Sr. Reynolds, meu professor de Inglês, entregou a cada aluno uma lista de pensamentos e declarações escrita por outros alunos e, em seguida, nos passou um dever de redação baseado num daqueles pensamentos. Com dezessete anos, eu estava começando a pensar a respeito de muitas coisas, por isso escolhi a declaração: "Eu me pergunto por que as coisas são como são."Naquela noite, escrevi, em formato de narrativa, todas as perguntas que me deixavam confusa acerca da vida. Percebi que muitas delas eram difíceis de responder e que talvez outras não pudessem ser respondidas de forma alguma. Quando entreguei o trabalho, estava com medo de me sair mal porque não tinha dado uma resposta à questão "Eu me pergunto por que as coisas são como são". Eu não tinha resposta. Só tinha escrito perguntas.No dia seguinte, o Sr. Reynolds me chamou junto ao quadro-negro e pediu que eu lesse minha declaração para os outros alunos. Entregou-me o trabalho e sentou-se no fundo da sala. A turma ficou em silêncio quando comecei a ler:


"Mamãe, papai... por quê? 
Mamãe, por que as rosas são vermelhas? Mamãe, por que a grama é verde e o céu é azul. Por que a aranha tem uma teia e não uma casa? Papai, por que eu não posso brincar com sua caixa de ferramentas? Professor, por que eu tenho que ler?  Mamãe, por que não posso usar batom para ir ao baile? Papai, por que não posso ficar na rua até meia-noite? Os outros garotos ficam. Mamãe, por que você me odeia?  Papai, por que as outras crianças não gostam de mim? Por que tenho que ser tão magra? Por que tenho que usar óculos e aparelho nos dentes? Por que tenho que ter dezesseis anos?  Mamãe, por que tenho que me formar? Papai, por que tenho que crescer? Mamãe, papai, por que tenho que ir embora? Mamãe, por que você não escreve com mais freqüência?  Papai, por que tenho saudades dos meus velhos amigos? Papai, por que você me ama tanto? Papai, por que você me mima? Sua garotinha está crescendo. Mamãe, por que você não me visita? Mamãe, por que é tão difícil fazer novos amigos? Papai, por que tenho saudades de casa?  Papai, por que meu coração dispara quando ele olha nos meus olhos? Mamãe, por que minhas pernas tremem quando eu ouço a voz dele? Mamãe, por que estar apaixonada é a melhor sensação do mundo?  Papai, por que você não gosta de ser chamado de "vovô"? Mamãe, por que os dedinhos do meu bebê se agarram com tanta força aos meus? Mamãe, por que eles têm que crescer? Papai, por que eles têm que ir embora? Por que eu tenho que ser chamada de "vovó"? Mamãe, papai, por que vocês tiveram que me deixar? Eu preciso de vocês.  Por que a minha juventude passou por mim? Por que meu rosto mostra todos os sorrisos que eu já dei a um amigo ou a um estranho? Por que meu cabelo brilha com um tom prateado? Por que minhas mãos tremem quando me abaixo para pegar uma flor? Por que, Deus, as rosas são vermelhas?"

Quando terminei minha história, meus olhos se encontraram com os olhos do Sr. Reynolds e eu vi uma lágrima correndo lentamente no seu rosto. Foi então que percebi que a vida nem sempre é baseada nas respostas que recebemos, mas também nas perguntas que fazemos.



sábado, 24 de novembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil



26- As palavras

                              Vanessa da Mata  


As palavras saem quase sem querer
Rezam por nós dois
Tome conta do que vai dizer
Elas estão dentro dos meus olhos
Da minha boca, dos meus ombros.
Se quiser ouvir
É fácil perceber                                        

Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem
E não ser meu mal
Reabilite o meu coração

Tentei
Rasguei sua alma e pus no fogo
Não assoprei
Não relutei
Os buracos que eu cavei
Não quis rever
Mas o amargo delas resvalou em mim
Não me deu direito de viver em paz
Estou aqui pra te pedir perdão

As palavras fogem 
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem, ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil





25- Hino à Bandeira Nacional
                                                                 
                                                                              Letra: Olavo Bilac
                                                              Música: Francisco Braga


Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.



Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!


Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!



       Contemplando o teu vulto sagrado,
       Compreendemos o nosso dever;
       E o Brasil, por seus filhos amado,
       Poderoso e feliz há de ser.

       

       Recebe o afeto que se encerra
       Em nosso peito juvenil,
       Querido símbolo da terra,
       Da amada terra do Brasil!


       Sobre a imensa Nação Brasileira,
       Nos momentos de festa ou de dor,
       Paira sempre, sagrada bandeira,
       Pavilhão da Justiça e do Amor!


       Recebe o afeto que se encerra
       Em nosso peito juvenil,
       Querido símbolo da terra,
       Da amada terra do Brasil!



terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil



24- A maior riqueza do homem é a sua incompletude                                                                         

                                                                     Manoel de Barros


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

3 - Que palavra é esta?


Idéia sobre determinado elemento da realidade criada antes de se conhecer de fato esse elemento.
                                       
a)      preconceito
b)      oposição
c)      comentar
d)      determinado
e)      juventude


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil (haicai)



23- Os tristes
                                   Helena Kolody


Em seus caramujos,
os tristes sonham silêncios.
Que ausência os habita?





Pesquisa feita em:
Boa Companhia. Org. Guttilla, Rodolfo Witzig. São Paulo:  Companhia das letras, 2009. 

Cem poemas bonitos do Brasil (haicai)




22-  Pescaria
                                 Guilherme de Almeida


        Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
     Pesco  uma estrelinha.





Pesquisa feita em:
Boa Companhia. Org. Guttilla, Rodolfo Witzig. São Paulo:  Companhia das letras, 2009. 

Cem poemas bonitos do Brasil (haicai)




21- Desolação
                               Cyro Armando Catta Preta


Fim de estrada. Só.
Sem espaço para os passos.
Adiante e atrás: pó.  



Pesquisa feita em:
Boa Companhia. Org. Guttilla, Rodolfo Witzig. São Paulo:  Companhia das letras, 2009. 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

2ª Parte. Ideias simples sobre a matéria de Português para o vestibulinho das ETECs.





*Para formar os períodos, as orações se unem de duas maneiras: por coordenação ou por subordinação.

Coordenação significa que as orações unidas permanecem completas e independentes.  Uma não é parte da outra. 

Já na subordinação, uma é como parte da outra, são dependentes entre si.  Em geral, há uma oração básica (principal) e outras que representam partes dela.

Portanto, uma oração pode ser sujeito da principal, ou objeto (direto ou indireto), ou adjunto adnominal/complemento nominal da principal, ou ainda adjunto adverbial da principal.  


*Há cinco tipos de orações coordenadas:  1- Aditiva (que somente soma informação à primeira, 2- Adversativa (que é como uma “adversária”, uma opositora à ideia da primeira),  3- Conclusiva (que em geral representa uma conclusão a partir da primeira ou uma decorrência da primeira oração), 4- Explicativa (que representa uma explicação para a ideia da primeira), e, por fim, 
5- Alternativa (que representa uma opção à primeira oração).


Ex.1: Fiz a lição e li o jornal.

A primeira oração é: Fiz a lição.

A segunda é: e li o jornal (oração coordenada aditiva).  


Ex.2: Fiz a lição, mas não entendi nada.

A primeira oração é: Fiz a lição.

A segunda oração é: mas não entendi nada (oração coordenada adversativa).


Ex.3: Fiz a lição, por isso entendi tudo.

A primeira oração é: Fiz a lição.

A segunda oração é: por isso entendi tudo (oração coordenada conclusiva).


Ex.4: Entendi tudo, porque fiz a lição.

A primeira oração é: Entendi tudo.

A segunda oração é: porque fiz a lição (oração coordenada explicativa).


Ex.5: Faço a lição, ou leio o jornal.

A primeira oração é: Faço a lição.

A segunda oração é: ou leio o jornal (oração coordenada alternativa).


*você deve ter percebido que classificamos somente a segunda oração de cada período.  É assim mesmo.  A oração que vem com conjunção (a palavrinha em destaque) é a que recebe a classificação.  A outra, que não precisa necessariamente ser a primeira, é chamada de coordenada assindética (nome complicado, quer dizer sem conjunção).


*Aproveite para fixar bem mais dois conceitos importantes, muito úteis:

1- Conjunção:  palavra ou expressão que liga duas orações no período (mas, e pois, portanto, que, quando, se, etc.)  

2- Preposição: palavra ou expressão que liga outras palavras dentro de uma pequena frase ou oração (de, para, com, desde, sobre, etc.)


*Vamos à subordinação: 

Se a oração subordinada está no lugar do sujeito de outra oração (principal), ela se chamará Oração Subordinada Subjetiva.

Ex.:  Conhecer você foi ótimo.  Para saber qual é o sujeito, pergunte “quem?” ou “ o quê?” antes do verbo que fizer sentido.  O que foi ótimo?  Resposta: Conhecer você (sujeito).  Portanto:

A 1ª oração é: Conhecer você (oração subordinada subjetiva).

A 2ª oração é: foi ótimo (principal).


Se a oração subordinada está no lugar do objeto direto ou indireto, ela se chamará Oração Subordinada Objetiva Direta ou Indireta.

Ex.:  Comprou o que ela quis.  Para saber qual é o objeto direto, pergunte “quem?” ou “o quê?” depois do verbo que fizer sentido.  Comprou o quê? Resposta: o que ela quis (objeto direto).  Portanto:

1ª oração: Comprou (principal).

2ª oração: o que ela quis (oração subordinada objetiva direta).


Ex.: Nós gostamos do que você fez.  Para saber qual é o objeto indireto, pergunte “quem?” ou “o quê?” acompanhado de uma preposição (de, por, para, a, etc.) depois do verbo que fizer sentido.  Gostamos do quê?  Resposta: do que você fez (objeto indireto).  Portanto:

1ª oração: Nós gostamos (principal)

2ª oração: do que você fez (oração subordinada objetiva indireta).




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ideias simples sobre a matéria de Português para o vestibulinho das ETECs. 1ª Parte.






*Oração é frase com verbo.


*Ordem direta da oração é a sequência sujeito-verbo-objeto (s-v-o) e complementos.

Para saber qual é o sujeito, pergunte antes do verbo “O quê?“ ou “Quem?”.

Ex.:  O médico operou o paciente.  Quem operou?  O médico (sujeito).

Para saber qual é o objeto direto, pergunte depois do verbo “O quê?” ou “Quem?”.

Ex.:  Operou quem?  O paciente (objeto direto).

Para objeto indireto, a pergunta depois do verbo contém uma preposição como “de que?”, “de quem?”, “a que?”, “a quem”, etc.

Ex.:  Ele ofereceu a ela.  Ofereceu a quem?  A ela (objeto indireto).


*A frase acima está na ordem direta s-v-o.  Se colocarmos, p. ex., o objeto no início, teremos quebra de ordem direta, ou ordem inversa.

Ex.:  O paciente, o médico operou.

De quebra, aprendemos aqui o uso principal da vírgula: indicar que houve rompimento da ordem direta. Ou por inversão ou por introdução de comentários, explicações (apostos) na oração.

Ex. do segundo caso:  Ele, o melhor do time, fez o gol. 

Ele fez o gol é a oração em s-v-o.  Entre o sujeito e o verbo foi introduzida uma explicação (aposto), entre duas vírgulas.  Ou seja, a vírgula acontece onde existe uma ruptura da ordem direta da oração. 

Mas a vírgula também é usada nos períodos.

Período é um tipo de frase especial.  Ela pode conter mais de uma oração.  Se acontecer isso, chamamos de período composto.

Ex.: Eu vou lá, pois é necessário.

A primeira oração é: Eu vou lá (verbo ir).

A segunda oração é: pois é necessário (verbo ser).

Então, a vírgula é usada para indicar que uma oração acabou e outra vai começar, isso dentro de um período.  Ou seja, indica término de uma ordem direta e começo de outra.   

Mas, enfim, por que é importante sinalizar com vírgula essas rupturas?  Porque, por ex., se o leitor já leu um sujeito e uma forma verbal, ele estará esperando ler um objeto ou complemento em ordem direta.  Porém, o que vem depois é outra coisa (um aposto ou outra oração).  Isso o confundirá e o obrigará a reler o trecho para entender.  Concorda que isso atrapalha a leitura?  Por isso aparece uma vírgula indicando que ali há uma ruptura da ordem direta.


*A forma como o verbo representa a ação na oração recebe o nome de voz.  E são três tipos: voz ativa, voz passiva e voz reflexiva.

Na voz ativa, o verbo representa uma ação produzida , causada pelo sujeito.

Ex.: O médico operou o paciente.

Aqui o sujeito produziu a operação.  Verbo na voz ativa, portanto.

Na voz passiva, o verbo representa a ação que o sujeito sofre ou recebe.

Ex.: O paciente foi operado pelo médico.

O sujeito aqui é o paciente (pergunte “Quem?” antes do verbo) e é claro que ele sofreu a ação do médico.  Verbo na voz passiva, portanto.

Por fim, na voz reflexiva (pense no espelho, que faz retornar a imagem para a pessoa que se  vê nele), o verbo representa  uma ação que é praticada pelo sujeito e sofrida/recebida pelo mesmo sujeito.

Ex.:  O médico se cortou.

O sujeito é o médico.  Ele produziu a ação e, ao mesmo tempo, sofreu essa ação.  Voz reflexiva do verbo, portanto.




domingo, 30 de setembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil




20 - Os poemas
                                      Mario Quintana


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...




domingo, 16 de setembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil


             
                                   
19 - Canção do exílio
                                                         

                                                            Gonçalves Dias


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cem poemas bonitos do Brasil



18 - Samba e amor
                                           Chico Buarque

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O professor do pobre

                                                                       

Por que o professor do pobre não pode ter altivez?
Porque se for assim, o pobre aprenderá a ser altivo.

Por que o professor do pobre não pode ter dignidade? 
Porque se for assim, o pobre aprenderá a ser digno.

Por que o professor do pobre não pode ser endinheirado? 
Porque se for assim, o pobre aprenderá que é possível ganhar bastante dinheiro, trabalhando honestamente.

Por que o professor do pobre não pode ter bastante tempo para pensar e se preparar? 
Por que se for assim, o pobre aprenderá a pensar e será muito mais capaz.

Por que o professor do pobre não pode ser contente?
Porque se ele for contente, ensinará ao pobre que o trabalho não precisa ser massacrante.

Por que o professor do pobre não pode ter autonomia?  
Porque se for assim, o pobre aprenderá o valor da independência.

Mas por que o pobre não pode aprender todas essas coisas?  
Porque se isso acontecer, a sociedade será outra, muito melhor.

E por que isso não seria bom?  
Porque se a sociedade fosse outra, melhor, os dirigentes da sociedade também seriam outros.  Entendeu? 

Termino por aqui, mas com uma pergunta que pode incomodar:

Será que nós, profundamente, verdadeiramente, queremos mesmo essa outra sociedade melhor?  

Responder olhando para um espelho.

                                                                                    
                                                                                                     Humberto Cosentine
   

  


sábado, 21 de julho de 2012

Sobre o atirador de Aurora



Há uns quinze anos, escrevi uma série de textos ("Algumas idéias para um país interessante" - Ed. Baraúna) sobre a forte influência dos filmes de violência explícita nas pessoas mais desequilibradas, mas pouca gente levou essa hipótese a sério.    


19- PROGRAMAÇÃO INVOLUNTÁRIA PARA A VIOLÊNCIA

            Somos escravos do impulso de observar cenas de incêndios, enchentes, outras tragédias, violência entre seres humanos com tiros, facadas, torturas, etc, simplesmente porque o instinto de sobrevivência exige. O objetivo desse mecanismo é: evitar que também sejamos aniquilados pelas situações citadas. Instintivamente olhamos para um acidente grave automobilístico e não conseguimos deixar de olhar, mesmo quando racionalmente sabemos que as vítimas já foram socorridas e outras providências foram tomadas, porque o animal que há em nós, quer se certificar de que não há mais perigo para ele, que a situação já está terminada, ou seja, não pode progredir a ponto de envolver-nos também. O mesmo se aplica para nossa relação com cenas de violência na TV, no cinema e na vida real. Excetuando-se pessoas que conseguem estabelecer uma mediação racional bastante forte entre seus impulsos nesse campo e a concretização dos mesmos, a maioria das pessoas e principalmente aquelas que viveram em meio a muitas sensações de perigo (família desestruturada, ambiente violento, miséria, neurose, etc.), praticamente não conseguem deixar de olhar essas cenas. Trata-se de um fenômeno que chamarei de atenção instintiva.
            Ora, é fácil concluir que se se pretender fazer um filme com relativamente poucos recursos e que dê um bom público, ou com muitos recursos e garantia de bom público, a receita será colocar muitas cenas de violência (ou catástrofes) e violência a mais sangrenta possível e, ainda, de preferência contra ou entre seres humanos e em ambiente realista. A atenção instintiva assim gerada aumentará em muito a garantia de um bom público.
            É sabido que nossa mente pode ser programada, em muitos aspectos, como se fosse um computador. No caso do cérebro, para que ele aceite uma programação, é preciso: 1- que a pessoa a queira, 2- que a programação ocorra com base em exposição prolongada com muita repetição ou com exposição especial, envolvendo estados alterados de consciência.
            Pensemos na violência presente na TV e no cinema. Milhares de tiros, facadas e torturas várias numa freqüência crescente, são assistidos todos os dias pelos espectadores. Passados uns dez anos de exposição, e se pensarmos em crianças e adolescentes em fase de definição de personalidade, é muito possível que tenha ocorrido uma programação, embora informal, para a violência sangrenta, para a violência de aniquilação do outro. Porque as cenas de violência com tiros, facadas e torturas, quebras de pescoço, etc., ao serem absorvidas pelas pessoas nessa quantidade e freqüência, dia após dia, ficam gravadas profundamente, além disso, levam a uma habituação a esses atos, que deixam de ser raros em nossa consciência, surpreendentes, apavorantes, e enfim, passam a estar na ordem do dia. Aqui vai uma afirmação muito ousada pois ainda não totalmente demonstrada em laboratórios de Psicologia: a de que uma pessoa com tamanho repertório audiovisual de violência sangrenta, se for envolvida em uma situação de conflito com outras pessoas, apresenta muito mais probabilidade de, no momento de agir, substituir o impulso de socar pelo de atirar, substituir a idéia de chamar uma autoridade policial pela idéia de matar seu inimigo, trocar um empurrão do tipo “deixe-me em paz”, por pegar a cabeça do oponente e golpeá-la na quina de uma mesa. E se estiver dando uma “gravata” no oponente, por que não completar com aquela torção tão elegante que com freqüência é mostrada nos filmes, a qual vem sempre acompanhada de um “clic” de pescoço quebrado?
            Acredito que essa possibilidade aumenta muito mesmo e, se isso for verdade, é possível que os crimes sangrentos estejam ocorrendo em nossa sociedade numa quantidade muitíssimo maior do que ocorreriam caso nossa cultura não efetuasse a programação para a violência já descrita.
            Mas uma programação desse tipo só pode ocorrer se as pessoas participarem intensamente do processo, em suma, se elas quiserem. Isso quer dizer então que elas querem a violência sangrenta, uma vez que os filmes de violência dão boas audiências de TV e boas bilheterias de cinema?
            Como vimos no início, as pessoas não exatamente querem assistir mas são quase que obrigadas a isso por força dos instintos de sobrevivência e segurança (o fenômeno da atenção instintiva). Então essas cenas são muito atraentes, então essas cenas dão lucro, então elas ocorrem com freqüência cada vez maior nas telas, então nossas mentes ficam cada vez mais impregnadas de alta violência, então ocorre a programação para a violência, então um número aumentado de pessoas comete atos graves de violência física. Assim, fecha-se perfeitamente o esquema de programação neurolingüística involuntária para a alta violência.
            Acreditem, foi sem querer.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Frases minhas do Face -1






*  Não acredito em terrorismo do bem, a serviço de uma causa humanista. Quem planeja a morte de seres humanos, gosta de matar seres humanos.

 

*  A revolução brasileira será colocar a escola de pé, luxuosamente de pé. 



*  Acho que a gente começa a ficar bem na vida quando sente uma gostosura danada só de levar a gente mesma para tomar um lanche... 



*  Quando o brasileiro tomar o Brasil para si, teremos por aqui muitas coisas legais como, por exemplo, linhas de trens que passarão por todas as regiões e belezas do país, com vagões para refeitórios, amplos dormitórios, áreas de convivência... ; tudo muito confortável e acessível a todos, para que, pelo menos uma vez na vida, qualquer um de nós possa conhecer inteiramente o seu próprio país.    Mas para isso, brasileiro, você precisa tomar o Brasil para si. 



*  A vida é esta.